quinta-feira, 31 de outubro de 2013

31 de outubro. Dia do Saci

















Quem foi que te viu
Passar por aqui?
Da cor do tiziu
Chapéu encarnado
Cachimbo encantado
Bem brasileiro, Saci!

Zombando matreiro
Zunindo assobio
Astuto, ligeiro
Sorrindo, rodando
Assombra brincando 
Bem brasileiro, sumiu!

Apagou a vela
Febril redopio
Queimou a panela
Espantou o gado
Dinheiro achado
Bem brasileiro, meu tio!

quarta-feira, 30 de outubro de 2013

Quadrinhas portuguesas

SAUDAÇÕES
Tchau, Portugal! Foi legal!
Simonetta, Lisboeta: foi porreta!
Santo Antonio de Lisboa: voltarei numa boa!

QUADRINHAS PORTUGUESAS
No Porto deixei amores
Em Lisboa deixei amigos
Portugal quando quiseres
outra vez serei contigo

No Porto, rua das Flores
Em Lisboa, a Mouraria
A vida tem suas dores
Portugal, muita poesia

No Porto, muitos os vinhos
Em Lisboa, muitas sardinhas
Santo Antonio, meu padrinho
Sant'Ana, minha madrinha

Caldo verde, bacalhau
Galhinha cabidela
Saramago, Capicua
Sophia, Pessoa, Florbela

Na rua da palmeira
nossa casa lisboeta
recebeu-nos Florbela
tia de Simonetta

COM CERTEZA
Ser poesia
ser Pessoa
ser Sophia
ser Lisboa

terça-feira, 29 de outubro de 2013

GRIPE

GRIPE. Demorei a escrever. Logo depois do meu aniversário, já na manhã da apresentação no Baluba Bar, comecei a sentir-me resfriado. Mas fui adiante. Montei tudo, preparei-me, perfumei-me e fui cantar. O bar estava cheio. Cheio de amigos, os mais diferentes, gente que não via há anos, caros de várias situações por onde passei aqui nesses 28 anos (Hoje faz 28 anos que parti de navio da baía da Guanabara para as Oropas...). A garganta estava arranhando mas cantei bem à beça, com aquela tarimba que a vivência no palco acaba te dando: forçando bem os agudos, indo sem medo para alcançar as notas mais difíceis, cantando à plena voz. Apareceu o Kal e no segundo set deu uma super canja. Foi muito bonito. Todo mundo alegre, clima ótimo. Os donos do bar super agradecidos: " que show legal, que gente bonita". Voltei para casa muito cansado porém satisfeito, bem comigo, nem conseguia dormir. Às seis meia da manhã, despertei avoado. Sabrina no Brasil. Tinha que preparar a comida da Joana, acordar os meninos, arrumar a cozinha. Quando Gabriel e Joana saíram de casa, eu deitei na cama catatônico, corpo doído, mente confusa, febre baixinha, voz rouca, catarro. Gripe. Gripe braba que me arriou por uma semana e até ontem deixou seus sinais devastadores. O Gabriel tinha ficado gripado. Na noite de 14 para 15 minha cunhada Claudia veio de Nápoles para um curso. Ele deixou a cama dele para ela e veio dormir comigo. Claudia voltou no dia seguinte para o Sul. Resultado: eu e ela pegamos a gripe. E arriamos. Fiquei tão baqueado que não conseguia escrever ou ler. Só ver filmes streaming no Ipad. E, claro, preparar tudo pros filhos. No sábado (19/10), Joana foi para Alemanha. Saí para levá-la na estação Central. No domingo a coisa melhorou um pouco. Mas só foi dar sinal de quase cura na quarta-feira quando minha sogra veio de Ancona e Sabrina voltou do Brasil. Dia 24/10, Joana retornou da Alemanha e comemoramos o seu aniversário. Vade retro, doençeira! Tudo foi adiado: alunos, compromissos, leituras, trabalhos. Agora estou retornando às atividades. O show precisa continuar pois o mar não está para peixe. Cobra que não sai da toca não come sapo. Vamos combinar que tudo faz parte de uma grande transformação. Será?!!? Beijos de longe para não pegar gripe.

segunda-feira, 28 de outubro de 2013

TEATRO: PARA FALAR DE AMOR

TEATRO: PARA FALAR DE AMOR. Para Vico O motivo principal que me levou um dia a fazer teatro foi você. Depois o próprio teatro se encarregou de ser o único motivo. Não há arte mais viva. A simples presença de um corpo no palco cria a urgência da vida; e ela transborda. Esse ato faz do teatro a Arte por excelência. A vida interior e espiritual vem colocada em toda sua exterioridade corpórea. Quem subiu num palco e recitou sabe o que é; e é muito. Ontem, eu e Sabrina fomos ao teatro. Ao Piccolo Teatro Strelher, uma instituição milanesa. O diretor era Pippo Delbono. O nome do espetáculo, Orchidee. É uma coprodução europeia (França, Itália, Suiça), pois Delbono é nome internacional, trabalhou com Pina Bausch, apresentou-se com sua companhia em mais de 50 países. Seus atores são o que há de aparentemente mais diverso: um do hospício, outro com síndrome de down, outra balzaquiana, aquele outro viado. Simplesmente estão presentes. Presentes e íntegros, burlando todos os nossos preconceitos. O espetáculo começa com a sua voz que convida todos a desligar o celular e ter um bom divertimento, e ao questionamento desse convite corriqueiro hoje nos teatros, segue a projeção de uma entrevista com uma senhora francesa que mais conservadora não podemos encontrar. Ela é bela, límpida, articulada e reacionária, perfeitamente reacionária. É a imagem de Marie Le Pen, a líder do Fronte Nacional que atualmente lidera a preferência de voto do eleitorado francês. Uma gigantografia de Berlusconi domina o cenário por alguns instantes. E a voz do diretor nos joga dentro desse seu mundo nosso.Tudo é muito despojado e te provoca. Na sua tentativa de parar o tempo que atravessa, Delbono conta o tempo que vivemos. Um tempo onde ele se diz confuso e confessa de haver a sensação de ter perdido a fé política, revolucionária, humana, espiritual. Um ator serve docinhos à plateia. Imagens, som alto, música. A música te entra sem pedir licença. Corpos que passam, dançam. Dança sem ser dança, dança de roda, dança de meninos, mimo. Árvore de cerejas, arranha-céus americanos, Miles Davis, Pasolini, Patagonia, Mascagni, Shakespeare, mulheres africanas, orquídeas. Poemas, textos de teatro, clássicos. Homens nus se abraçam. Megafones, playback, imagens, quadros, fotos, máscaras, travestimentos. Penumbra, muita penumbra agindo com clareza. Delbono se coloca no proscênio. É dele que se fala. Segundo o diretor, Orchidee nasce também do grande vazio deixado pela morte de sua mãe há um ano. O filme, feito com o celular, da mãe no leito de morte é tocante. A senhora em estado decrépito lhe diz com um carinho e fé infinita de não haver medo, que ela se vai preparando o caminho do reencontro . Tudo inunda de emoção quem passou por esses momentos recentemente, como eu. Tudo é comovente, quer ser comovente e o é em uma dimensão de imensidão e proximidade extraordinárias. Delbono é homem da minha geração que cresceu comendo o pão da retórica revolucionária e Woodstock com guerra fria, Biafra, Deep Purple e LSD. Às vezes pode parecer datado, mas não é, porque as questões fundamentais ainda estão em pauta no contínuo embate da vida com a morte, da dignidade com a infâmia, da plenitude com o vazio. Lampedusa não nos deixa esquecer. Vive em Delbono a necessidade de preencher os vazios culturais, sociais e existenciais. Como se a sua vida fosse, como diz, transformada, talvez, na vida de tantos outros; essa necessidade de, apesar de tudo, escrever e falar de amor. Por isso e muito mais te escrevo, amiga e comadre querida: para falar de amor. Exibições: 14